LANDOS, Portugal — Guilherme Beixoto, pároco de uma aldeia no norte de Portugal, celebrou missas em duas das suas paróquias este mês e presidiu às comemorações dos mortos — e será o seu próximo DJ internacional. Ele está ocupado preparando um set de música eletrônica para o show.
O que começou há quase duas décadas como uma nova forma de angariar fundos para as igrejas locais tornou-se essencial para o ministério do padre católico de 49 anos num continente cada vez mais secularizado, onde a prática religiosa está a diminuir rapidamente – especialmente entre os jovens.
“Com a música eletrónica posso levar algumas mensagens, posso estar onde os jovens estão”, disse Peixoto poucos dias depois de regressar a Landos depois de tocar num grande festival de Halloween em Itália. Eles podem pensar: “Se um padre é DJ, é possível que eu ame música e festivais e seja cristão”.
O padre entrou no cenário mundial quando os organizadores da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa lhe pediram que “acordasse os peregrinos” às 7h, antes da missa ao ar livre do Papa Francisco, em agosto.
Peixoto, capelão militar, preparava-se para tocar com a Orquestra Sinfónica do Exército Português no final de Outubro, mas deixou tudo de lado e começou a preparar-se para o grande evento dentro de algumas semanas.
Naquela manhã de domingo, em meio a uma multidão de bispos vestidos de branco, com colarinho clerical e grandes fones de ouvido pretos, e diante de 1,5 milhão de fiéis, Peixoto dançou ao som de clipes de discursos papais.
No início da suíte de 30 minutos, a exortação de São João Paulo II de 1978 para abrir seu coração a Cristo, “Não tenha medo”, soou em italiano. Peixoto encerrou o espetáculo com um largo sorriso enquanto os peregrinos dançavam ao som das palavras do Papa Francisco de que todos têm um lugar na Igreja – “todos, dodos, dodos” em espanhol.
Ele ficou acordado a noite toda para mixar o áudio do discurso de Francisco na noite anterior. Depois de receber a comunhão na missa, viajou mais de quatro horas até à sua aldeia para a procissão, disse Silvana Pontes, uma das suas paroquianas que é voluntária num clube em Landos onde o “padre DJ” toca muitos fins de semana no verão. noites.
“Você não acha que estamos em um bar com um padre. Você sente isso. É muito natural e as pessoas notam isso”, disse Pontes na R de Rock, o pequeno clube ao ar livre da paróquia, situado numa colina no topo de um templo, acima da aldeia. “As pessoas nos veem felizes.”
Quando Peixoto foi enviado para cá pela primeira vez, em meados da década de 2000, a paróquia estava sem dinheiro e endividada com as reformas da igreja matriz. Mas os paroquianos estavam cansados das vendas de bolos e das campanhas porta-a-porta, então Peixoto convidou jovens cantores para iniciar uma arrecadação de fundos no karaokê.
Como participou de duas bandas no seminário – embora tenha vendido seus equipamentos e sistemas de som antes de prestar juramento, pensando que sua carreira musical havia acabado – ele revive esses acontecimentos tocando sets de rock em seu laptop.
Em poucos anos, as dívidas foram quitadas, as reformas da nova igreja foram concluídas, Peixoto estava tendo aulas de DJ profissional e a maioria dos paroquianos dava como certo que o padre mixava uma bad beat no Ar de Rock.
“No começo foi estranho, mas agora é normal. Eles entendem que o padre também é uma pessoa”, disse Tania Campos, que nasceu e cresceu em Landos, onde trabalha como catequista, cantora de coral e voluntária do RD Rock. secretária paroquial, ela recebe mais fãs do pós-Jornada Mundial da Juventude, recebendo inúmeras ligações e e-mails.
Cinco dezenas de voluntários mantiveram o bar aberto nas noites de sexta-feira neste verão – e não aos sábados, porque Peixoto celebra a missa dominical de manhã – enquanto centenas de pessoas, às vezes três gerações da mesma família, vinham dançar e conviver até às 3 da manhã.
Na última noite da temporada, em setembro, voluntários na cozinha — decorada com placas trazidas por visitantes do Arizona a São Paulo e à Suíça — prepararam 300 sanduíches “Francinhas Poveras”, disse a vereadora e voluntária Irene Pontes. Por mais de uma década.
Carnes pegajosas e queijos do norte de Portugal são especialmente bem-vindos depois da potente bebida exclusiva do bar, a Caipirinha. Mais de 1.000 deles foram vendidos na primeira noite por alguns euros (dólares) o copo, disse Andrea Flores, da segunda freguesia de Peixoto, na aldeia vizinha de Amorim, como voluntária atrás do bar.
Todas as vendas de alimentos e bebidas e outras doações revertem para a igreja, que está a preparar o seu projecto de construção mais ambicioso, um novo centro para actividades juvenis.
“É por isso que estou feliz por estar aqui”, disse Flores. “Fé é agradar aos outros.”
Para Beexodo, ser DJ fora da aldeia e fora dela tornou-se uma nova e importante forma de evangelismo.
Ele contou sobre compromissos como o festival de Halloween com cerca de 30 mil pessoas. Lá, ele remixou batidas de dança eletrônica com palavras da encíclica do Papa Francisco sobre a proteção do meio ambiente.
“As pessoas dançam ao som das frases da ‘Laudato Si’”, disse Peixoto rindo. “Não é tanto – duas ou três frases do Papa – mas se eu não estiver presente não é nenhuma frase. É como uma sementinha, o Espírito Santo fará a sua obra.
Na verdade, outro documento do Papa Francisco exortava o clero a ir em busca das “ovelhas perdidas”, levando Peixoto a trabalhar arduamente nas suas habilidades musicais para que os conjuntos de som profissionais pudessem ser uma forma de chegar àqueles que não podiam entrar. Uma igreja.
Em Portugal, metade dos jovens afirma não ter religião. De acordo com um estudo recente de Eduardo Duque, professor da Universidade Católica Portuguesa em Praga, a maioria participa menos nos cultos e confia menos na igreja, e reza menos do que as gerações mais velhas.
“Padre Guilherme diz: ‘Se não podemos trazê-los para a igreja, levaremos a igreja até eles’”, disse Silvana Pontes.
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